Em Santa Catarina, metalúrgicos cutistas realizam 6º Congresso estadual
Primeiro dia do 6º Congresso do Departamento Estadual dos Metalúrgicos CNM/CUT-SC debate sobre a importância da reindustrialização
Publicado: 22 Março, 2023 - 12h46 | Última modificação: 24 Março, 2023 - 15h53
Escrito por: Pricila Baade / CUT-SC

O 6º Congresso do Departamento Estadual dos Metalúrgicos CNM/CUT-SC começou nesta terça-feira (21) com a participação de cerca de 80 pessoas, representando 24 entidades de todo estado de Santa Catarina. O congresso segue até esta quarta-feira (22), na Colônia de Férias do Sindicato dos Mecânicos de Joinville e Região. O tema "Reconstruir o Brasil de forma sustentável e humanizada com trabalho decente, soberania, renda e direitos" irá balizar os dois dias de trabalho de organização do ramo e fortalecimento da luta em defesa da classe trabalhadora.
A abertura do encontro contou com a participação de diversas lideranças estaduais e nacionais. Além de lideranças metalúrgicas, participaram representantes de outas categorias de trabalhadores e federações.
A mesa política principal foi formada pelo secretário-geral da CNM/CUT, Loricardo de Oliveira; pelo Secretário-Adjunto de Relações Internacionais da CUT Brasil, Quintino Marques Severo; pelo coordenador do departamento estadual dos metalúrgicos da CNM/CUT, Valmor Machado; pela presidenta da CUT-SC, Anna Julia Rodrigues; e pela deputada estadual Luciane Carminatti (PT). A mesa foi coordenada por Wanderlei Monteiro, da coordenação do departamento estadual da CNM/CUT de SC.
Em sua saudação, o Secretário Geral da CNM/CUT ressaltou os desafios e tarefas do ramo metalúrgico “Temos um dever e a responsabilidade de construir um ramo no Estado que esteja mais comprometido com mulheres e jovens. Que lute contra o trabalho escravo e contra a informalidade. Temos que envolver nossas bases e pensar a organização no local de trabalho, envolvendo as CIPAs, que muitas vezes são esquecidos por nossos sindicatos”.
Loricardo falou ainda do objetivo do 11º Congresso da CNM/CUT, que acontece em maio deste ano, e irá trabalhar a recuperação da democracia, do trabalho decente e da soberania “Os delegados que estarão no Congresso devem estar dispostos a construir um novo futuro e mostrar que somos melhores que a direita que quer apenas destruir nossos direitos”, finalizou.
A presidenta da CUT-SC, Anna Julia Rodrigues, relembrou dos ataques e retrocessos que os trabalhadores sofreram após o golpe da presidenta Dilma “Foram seis anos de ataques e retiradas com o golpista Temer e com o governo de Bolsonaro. Agora, com 70 dias de governo Lula felizmente já estamos recuperando alguns direitos, o principal deles é a retomada da valorização do salário mínimo, Mas sabemos que eleger Lula não é suficiente, porque temos um Congresso que tem uma maioria que não apoia os trabalhadores. Precisamos continuar mobilizados e unificados para lutar em defesa dos nossos direitos e garantir avanços”.

O perfil da indústria metalúrgica em Santa Catarina
A primeira mesa do 6º Congresso debateu sobre o perfil da indústria catarinense e do ramo metalúrgico. O diretor técnico do DIEESE em Santa Catarina, José Álvaro, trouxe dados da participação da indústria na economia do estado e na geração de empregos. A mesa foi coordenada por Elzira Fioreze, do Sindicato dos Metalúrgicos de Joinville.
Zé Álvaro ressaltou que a indústria é estratégica no estado na geração de emprego e renda, representando 34% dos empregos formais em Santa Catarina, ou seja, mais de 800 mil trabalhadores, mas que é preciso analisar que tipo de emprego é “Nas mesas de negociação, os patrões gostam de reforçar que os trabalhadores em Santa Catarina são diferenciados, mais qualificados, mesmo assim, eles pagam de 13% a 15% abaixo da média salarial nacional. O perfil de indústria que queremos é um tema central, que respeite o meio ambiente, que gere empregos de qualidade, inclusive para os povos da floresta e que combata a desigualdade salarial entre homens e mulheres”.
Alguns dados trazidos pelo diretor do DIEESE reforçam que mesmo Santa Catarina sendo conhecida por ser o estado com a menor taxa de desemprego, é preciso reforçar que o trabalhador catarinense empobreceu muito nos últimos 30 anos, já que o salário dos trabalhadores foi reajustado muito abaixo de necessidades básicas para as pessoas: como a cesta básica “O piso médio negociado em Santa Catarina pelos metalúrgicos é maior que a média do restante do país, R$ 3.538. Mesmo assim, com esse valor dá pra comprar pouco mais de 4 cestas básicas em SC e ainda é muito abaixo do salário mínimo necessário calculado pelo DIEESE para que o trabalhador possa viver de forma digna, que é de R$ 6.547,58”.
Desenvolvimento produtivo, tecnológico e social
O presidente do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento (TID-Brasil), Rafael Marques, foi o palestrante da segunda mesa de debate que falou sobre a proposta de Desenvolvimento Produtivo, Tecnológico e Social, desenvolvida pelo TID-Brasil, entidade que os ramos da indústria participam. A mesa foi coordenada por Adélia de Fátima Nogueira, do Sindicato dos Mecânicos de Joinville e Região.
Rafael mostrou que a indústria é o elo mais frágil da economia brasileira, mesmo sendo responsável pelo desenvolvimento nacional até agora, consequência das políticas implementadas nos últimos seis anos “O Brasil chegou a representar 3% da indústria global, hoje representa somente 1,3%. Estamos em 15º no ranking de produção industrial. Isso é resultado da política externa de Temer e Bolsonaro. O Brasil praticamente não é visto nas exportações globais de manufaturados, praticamente exportamos apenas produtos de baixo conteúdo tecnológico”.
O presidente do TID-Brasil reforçou que há uma relação direta entre desenvolvimento industrial e desenvolvimento social “Onde temos indústria de transformação temos maior dinamismo econômico e retornos sociais. Cidades onde há indústria outros serviços se estruturam, como saúde e educação. Qual é nossa tarefa nesse contexto? Não apenas realizar negociação coletiva para a categoria, precisamos nos envolver nos debates sobre políticas públicas, por exemplo”.
Pensando nisso, o macrossetor da indústria da CUT, em parceria com a IndustriALL-Brasil e o TID-Brasil, atualizou o Plano Indústria 10+, que contém diretrizes e propostas para o desenvolvimento produtivo, tecnológico e social do Brasil nos próximos dez anos. Nessa atualização foi incluído as missões, partindo da ideia de que a indústria não é um fim em si mesmo. “Na nova reformulação do Plano a sociedade foi incorporada, que são as missões que aponta que a industrialização precisa melhorara a qualidade de vida da população brasileira – com mobilidade urbana, saneamento básico. É pensar uma demanda que a sociedade tem e colocar como missão de uma indústria que tenha relação com a essa demanda”.
Perspectivas e possibilidades de ação sindical do ramo metalúrgico
A última mesa do primeiro dia do 6º Congresso debateu sobre o projeto de valorização e fortalecimento de negociação coletiva elaborado pela CUT e demais centrais para ser apresentado ao Congresso Federal. O debate foi feito pelo Secretário-Adjunto de Relações Internacionais da CUT Brasil, Quintino Marques Severo. A mesa foi coordenada por Rosana Sousa, do Sindicato dos Metalúrgicos de Araquari e São Francisco.
O principal objetivo do projeto é tentar recuperar a capacidade do movimento sindical de financiamento de forma autônoma e democrática com os trabalhadores, além de ampliar a capacidade de negociação coletiva de forma unificada com várias entidades, de forma regional, estadual ou nacional “Nossa ideia é trabalhar em um processo de transição, sem abandonar a atual forma de organização sindical, mas caminhando para uma nova – trazendo uma figura nova: a autogestão, que o Estado não intervenha na nossa atuação”.
Ele reforçou que o principal desafio é construir uma proposta que unifique para ter força para aprovar no Congresso “O que a gente quer é que esse projeto não seja alterado na Câmara. Para evitar que aconteça o que aconteceu com a Reforma Trabalhista. Precisamos nos concentrar em ter unidade e clareza na nossa proposta para convencer os deputados a aprovar o nosso projeto do jeito como ele chegar”.
Livro sobre Interdito Proibitório
Além das três mesas de debate, a programação do primeiro dia do Congresso finalizou com a apresentação do livro sobre o Interdito Proibitório e o direito à greve, escrito pelo advogado e assessor do Sintrasem, Johnson Garcez Homem. A mesa foi coordenada por Cleusa Machado da Rosa, do Sindicato dos Metalúrgicos de Joinville.
Na obra, Johnson questiona os meios que a empresa utiliza como o mecanismo processual de defesa da posse - o Interdito Proibitório – para impedir a paralisação dos trabalhadores, o que expõe uma abusividade contra o direito de greve.
Coordenação do Departamento Estadual da CNM/CUT
Wanderlei Monteiro, do Sindicato dos Metalúrgicos de Joinville, e Adriano Braatz, do Sindicato dos Mecânicos de Joinville e região, foram eleitos para coordenar o Departamento Estadual da CNM/CUT em Santa Catarina.
Wanderlei foi reeleito para estar à frente da coordenação e falou dos desafios dessa tarefa “Eu quero agradecer muito a confiança de vocês de me reconduzirem para coordenar o ramo em Santa Catarina. Não sei se vamos conseguir fazer tudo que é preciso, mas vamos nos esforçar o possível para levar o nome da CNM e da CUT para todos os espaços e fortalecer o nosso ramo no estado”
Adriano foi eleito pela primeira vez para representar o ramo no estado “Essa é a minha primeira experiência coordenando o ramo e vou tentar fazer o melhor, inspirado em outros companheiros que já fizeram um bom trabalho nesse espaço”.