Para garantir direitos, trabalhadores no México elegem novo sindicato na GM
Na primeira eleição sindical democrática em Silao dos últimos 25 anos, o SINTTIA derrotou três sindicatos, incluindo o sindicato atual que, segundo a categoria, beneficiava patrão e explorava trabalhador
Publicado: 04 Fevereiro, 2022 - 08h56 | Última modificação: 04 Fevereiro, 2022 - 10h43
Escrito por: Redação CNM/CUT
Após meses de campanha, preparação, com muitas ameaças e muita solidariedade nacional e internacional, mais de 80% dos 6.232 trabalhadores da fábrica da General Motors (GM) em Silao, no México, elegeram, nesta quinta-feira (3), novos representantes sindicais que vão liderar a luta por direitos e trabalho digno.
O Sindicato Nacional Independente dos Trabalhadores da Indústria Automotiva (SINTTIA) foi eleito por 4.192 trabalhadores e foi o escolhido legalmente para negociar um novo Contrato de Trabalho da categoria, que seja justo para todas e todos.
Na primeira eleição sindical democrática dos últimos 25 anos em Silão, o SINTTIA derrotou três outros sindicatos, incluindo o sindicato que manteve o contrato de trabalho da categoria nos últimos 25 anos, sem a participação ou votação dos trabalhadores, notoriamente conhecido como beneficiador de empresário que explora trabalhador.
“Foi uma vitória importante para a classe trabalhadora, principalmente no contexto em que os companheiros mexicanos viviam, com retirada de direitos, opressão no local de trabalho, nos salários baixos e extensas jornadas”, disse o secretário de Relações Internacionais da CNM/CUT, Maicon Michel, que está acompanhando o processo eleitoral desde o dia 1º de fevereiro.
O dirigente destaca que, “acima de tudo este processo foi muito importante para mostrar a força do sindicato independente e legítimo composto por trabalhadores da própria planta o que legitima ainda mais essa representação”.
O sindicalismo real e combativo volta com a possibilidade de disputar as bases de forma democrática e de construir um contrato coletivo com a participação, organização e mobilização dos trabalhadores.
O dirigente ressalta ainda o simbolismo de ter uma mulher como a companheira Alexandra, secretária geral do SINTTIA, protagonizando esse momento histórico.
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Joinville e dirigente da CNM/CUT, Rodolfo de Ramos, que também está no México, o que ele viu neste processo eleitoral foi inspirador.
“Foi uma experiência incrível conhecer um outro modelo de sindicalismo, mas para mim foi importante ver que existe resistência, organização dos trabalhadores dentro da fábrica e que eles têm interesse em melhorar as condições e trabalho”, disse o dirigente.
”Tudo que vimos aqui é a esperança para outras plantas, industrias, montadoras, autopeças. Só com um sindicato democrático e independente é que os trabalhadores e as trabalhadoras conseguem melhorar as condições de trabalho, de fato”, finalizou Rodolfo de Ramos.
Solidariedade internacional
Nesta semana, os mexicanos receberam uma delegação internacional de líderes sindicais e aliados dos EUA, Brasil e Canadá. A CNM/CUT esteve presente também, com a presença do Maicon e do Rodolfo.
A delegação juntou-se aos trabalhadores em manifestações frente a fábrica da GM, em uma série de entrevistas coletivas e atividades de observação eleitoral.
A eleição histórica também foi notícia em vários sites de todos país e muitas entidades se posicionaram parabenizando o sindicato eleito.
O secretário-geral do IndustriALL, Atle Høie, numa notícia publicada no site da entidade, disse que a vitória do SINTTIA é incrivelmente importante e uma prova de que a reforma trabalhista implementada pelo governo mexicano em 2019 pode realmente ter um efeito positivo para os trabalhadores, pois lhes dá uma chance real de votar de forma livre e justa eleições.
“Parabenizamos o SINTTIA, cuja grande vitória mostra que os trabalhadores mexicanos da indústria automobilística querem ser representados por um sindicato autêntico, descomprometido, independente e transparente. Há mais eleições por vir e esta vitória fortalecerá as estruturas democráticas”.
Alexis De Simone, da Solidarity Center, enviou uma carta para as entidades que se estiveram juntos com os trabalhadores da GM e disse que o próximo passo é negociar um acordo coletivo robusto que inspire trabalhadores de toda a indústria a organizar suas fábricas também.
“A região geográfica ao redor da fábrica da GM Silao abriga outras 300 fábricas de automóveis e milhares de trabalhadores que testemunharam a coragem e o comprometimento dos trabalhadores da GM. Estamos inspirados por esta vitória, o trabalho em equipe e a solidariedade real da classe trabalhadora e sindical nas Américas”, finalizou.
O sindicato dos trabalhadores da indústria automotiva dos Estados Unidos (UAW) também parabenizou a vitória do SINTTIA.
“O UAW parabeniza os trabalhadores da GM Silao pela formação de um sindicato livre, justo e independente. Elogiamos o governo Biden e o USTR por garantir um processo eleitoral justo e esperamos uma nova era de sindicatos livres, justos e independentes no México”.
